Observatórios ganham destaque no mês da juventude como instrumentos de políticas públicas

Redação OJC&T: Cláudia Marapodi - EPSJV/Fiocruz | 03/09/2025 11:30:16
Gestores de juventude estaduais e municipais, representantes da secretarias nacional de juventude da preseiência da república, integrantes de movimentos sociais, pesquisadores de juventude e trabalhadores do OJC&T.


Do encontro preparatório ao Seminário Nacional das Juventudes
O processo começou em julho, em São Paulo, com um encontro preparatório que reuniu pesquisadores e gestores para alinhar conceitos e identificar prioridades. Em agosto, em Brasília, o Seminário Nacional das Juventudes ampliou o debate com a presença de representantes de ministérios, especialistas e organizações da sociedade civil.

Em ambos os momentos, destacou-se a importância dos observatórios como instrumentospesquisadores da Escola Politècnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz, posam ao lado de cartaz do evento, em Brasília. não apenas de sistematização de informações, mas também de produção de diagnósticos capazes de orientar políticas públicas concretas para jovens em diferentes realidades.

Pesquisadores do Observatório Juventude, Ciência & Tecnologia (OJC&T/Fiocruz) também estiveram presentes em ambos os encontros, contribuindo com análises e experiências acumuladas ao longo de mais de uma década de monitoramento e estudos sobre juventude, ciência e políticas públicas.

Observatórios como tradutores críticos da realidade juvenil
Para o pesquisador Paulo Carrano, coordenador do Observatório Jovem do Rio de Janeiro (UFF), a força dos observatórios está em transformar a complexidade das realidades juvenis em conhecimento útil para a ação pública:

A função central de um Observatório é atuar como um tradutor crítico, convertendo a diversidade das experiências juvenis em insumos para o poder público e para a sociedade. Um observatório pode antecipar tendências e funcionar como um sistema de alerta precoce, ajudando o Estado a agir de forma proativa, e não apenas reativa”.

Carrano ressalta ainda que os observatórios precisam evitar leituras reducionistas sobre os jovens:

Não se trata de ver a juventude como um ‘problema’. O papel dos observatórios é justamente produzir leituras críticas e plurais, reconhecendo os jovens como sujeitos de direitos e destacando também sua potência criativa, mobilizadora e transformadora na sociedade”.

Experiências concretas de impacto nas políticas públicas
A pesquisadora Regina Novaes (UniRio) relembra que os observatórios já tiveram papel decisivo em mudanças concretas de políticas públicas para juventude no Brasil:

Pesquisas e monitoramentos permitiram, por exemplo, que o ProJovem ampliasse a faixa etária atendida e incluísse jovens que já estavam inseridos no mercado de trabalho. Também mostraram a necessidade de criar salas de acolhimento para filhos de jovens mães. Isso comprova como a produção acadêmica pode e deve dialogar com a formulação de políticas públicas”.

A pesquisadora alerta, no entanto, que os desafios permanecem:

Entre 2016 e 2023, mesmo com o Estatuto da Juventude em vigor, houve paralisação e até desmonte de iniciativas voltadas para a juventude. Nesse período, a vida dos jovens mudou intensamente com o avanço das tecnologias digitais, o que exige metodologias inovadoras para compreender as novas formas de ser e estar no mundo”.

Observatório Nacional das Juventudes: um marco para as políticas públicas
Para Ronald Luiz dos Santos, o Ronald Sorriso, secretário nacional de Juventude, o Observatório Nacional das Juventudes será decisivo para transformar dados em ação pública:

O Observatório, integrado ao Sinajuve, tem como objetivo sistematizar toda a produção sobre juventude, cruzar informações e entregá-las aos tomadores de decisão em todas as esferas. Isso garante maior efetividade das políticas públicas e dá qualidade às respostas que o Estado precisa oferecer”.

Ronald também destaca a importância da aproximação com instituições de pesquisa, como a Fiocruz:

Todos nós, gestores, temos buscado validar nossas ações para além das percepções. Nesse sentido, o OJC&T/Fiocruz é também um aliado estratégico. A pesquisa nos dá os instrumentos necessários para avaliar transformações sociais complexas e orientar políticas públicas baseadas em evidências”.

Um espaço histórico para integrar dados e pesquisas
Na mesma linha, Maynara Nafe, secretária de Juventude na Federação Árabe Palestina (Fepal) no Brasil, reforça que o Observatório Nacional das Juventudes surge como um marco histórico:

O Brasil carece de um espaço que reúna e cruze os dados sobre juventude. O Observatório vem para revolucionar esse processo, oferecendo base para a formulação de políticas públicas concretas e para novas produções acadêmicas. É quase uma mudança de paradigma, porque permite aplicar os recursos públicos de forma mais efetiva e direcionada”.

Ela também aponta que o desafio é dar capilaridade às informações:

O país é diverso, e as juventudes não podem ser vistas como um bloco homogêneo. O Observatório precisa gerar dados que possam ser usados localmente, comparando experiências entre municípios e estados. Assim, conseguimos mostrar o que funciona em uma região e pode inspirar outras, respeitando as especificidades culturais e sociais de cada território”.

Sistema Nacional de Juventude: política de Estado e descentralização
Outro ponto central foi a construção do Sistema Nacional de Juventude (Sinajuve), apresentado como uma forma de garantir que a Política Nacional de Juventude se torne uma política de Estado. Seus princípios incluem descentralização, participação social e respeito à diversidade regional, mostrando como a transversalidade é essencial para responder às demandas da população jovem (de 15 a 29 anos), que hoje representa cerca de 22% da população brasileira, de acordo com o IBGE.

Na avaliação de Regina Novaes, os observatórios têm hoje uma dupla tarefa:

De um lado, é preciso divulgar de maneira crítica e criativa o Estatuto da Juventude. E, de outro, produzir novos conhecimentos sobre como as mudanças recentes têm provocado desalento, adoecimento e novas formas de exclusão. E um dos principais desafios é captar as múltiplas vulnerabilidades das juventudes brasileiras, identificar demandas emergentes e traduzi-las em indicadores que orientem políticas”.

O consenso: dados existem, mas é preciso transformá-los em ação
Os debates realizados em São Paulo e Brasília apontaram para um consenso: não faltam dados sobre juventudes no Brasil, mas é urgente transformá-los em políticas públicas consistentes e duradouras. Como sintetiza Paulo Carrano:

A luta contra estigmas e desigualdades não é apenas técnica, mas ética e política. Os observatórios precisam assumir publicamente esse compromisso: produzir leituras justas, complexas e plurais sobre as juventudes, influenciando políticas que atuem sobre as verdadeiras causas de desigualdades”.

Nesse sentido, os observatórios de juventude se consolidam como ferramentas-chave para ouvir, analisar e traduzir as múltiplas vozes da juventude brasileira em ações concretas.
 

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